“Inteligência Artificial (IA) pode ser definida como todo sistema computacional que simula a capacidade humana de raciocinar e resolver problemas, por meio de tomadas de decisão baseadas em análises probabilísticas (Caitlin Mulholland)”, explicou a professora de Direito do Consumidor Angélica Carlini em apresentação sobre Inovação nas Relações de Consumo, realizada durante a reunião de 28 de julho da Comissão de Inteligência de Mercado (CIM).
E, à semelhança da Inteligência Artificial, o setor segurador também atua por meio de decisões baseadas em análises probabilísticas, evidenciando a utilidade dessa poderosa ferramenta para esse segmento de negócio. “Para uma seguradora, é importante saber quando um estabelecimento segurado poderá pegar fogo, mas também é importante mensurar qual será a extensão do impacto desse fogo e os algoritmos podem ser utilizados para isso”, afirmou. Os algoritmos, cabe lembrar, são sequências de instruções bem definidas, normalmente usadas para resolver problemas de matemática específicos, executar tarefas, ou para realizar cálculos e equações, sendo largamente utilizados nos programas de IA. Eles podem auxiliar a indústria de seguros na elaboração dos cálculos atuariais, na automação dos processos de gestão, na prevenção de enfermidades, na alocação de recursos, no alerta de eventos naturais e, também, na previsão da conduta e gestão de consumidores, entre outras inúmeras utilidades.
Entretanto, alertou Carlini, a Inteligência Artificial precisa ser administrada com responsabilidade para se evitar problemas como vieses discriminatórios, falta de transparência, decisões excessivamente automatizadas e dificuldade de identificação de autoria de danos. Mas, informou a professora, felizmente as instituições estão atentas à questão, como é o caso da Autoridade Europeia de Seguros e Pensões (EIOPA, na sigla em inglês), que no ano passado elaborou um relatório levando em conta as especificidades do setor segurador, estabelecendo governança para que o uso da inteligência artificial seja ético e confiável.
Como ASG e Inovação se conectam?
Essa foi a pergunta que serviu de mote para a apresentação seguinte, realizada por Luís Gustavo Lima, CEO da consultoria de inovação Ace Cortex. ASG, cuja sigla representa as palavras Ambiental, Social e Governança, na definição de Luís, significa “conduzir os negócios de forma ética, transparente e com consciência dos impactos, gerando valor para a sociedade e os stakeholders em toda a cadeia de relações”.
Entretanto, afirmou, de acordo com pesquisa feita junto a 300 startups de inovação, a maioria ainda foca no “A” de ambiental e pouco no “G” de governança. Outro problema identificado é o greenwhasing, que é uma apropriação errônea de virtudes ambientais, estando muito presente no marketing, mas pouco nos processos.
Essa mentalidade, entretanto, parece estar mudando, com o surgimento de lideranças e consumidores mais conscientes, levando a agenda ASG muito mais a sério. “Empresas que não entenderem isso agora, viverão dias difíceis no futuro”, declarou. Já a respeito de inovação, o CEO afirmou que ela deve ser incorporada em todos os sistemas de gestão de negócios, não cabendo mais hoje em dia “o uso de práticas do século XX”. “A partir de agora, o foco deve estar no negócio, com a exploração das capacidades existentes e, com o mesmo peso, na inovação, com a exploração de novas oportunidades”, concluiu.
Não bastassem esses argumentos, Luís listou mais outros três para que as empresas incorporem as questões ASG aos negócios: a rentabilidade, pois as empresas ASG possuem uma maior valorização na bolsa; a regulação, que fortalece a tendência de adoção dessas práticas, e o engajamento da geração Z, nascida após 1990, que já representa ¼ da população mundial e valoriza mais as questões ambientais, sociais e tecnológicas.
Como o setor segurador encara os riscos ASG?
A última apresentação da reunião foi feita pelo professor Flávio Nogueira, da COPPE/UFRJ, que trouxe algumas informações sobre a pesquisa “Sustentabilidade em seguros – riscos climáticos – de onde viemos e para onde vamos”, que está sendo realizada por ele, junto com Roberto Nogueira e Paula Chimenti. A pesquisa, na verdade, é uma revisão da que foi feita em 2015, com o apoio da CNseg, e pretende, entre outros objetivos, atualizar a revisão da literatura sobre sustentabilidade em seguros, especialmente em relação às mudanças climáticas, além de refinar o instrumento de mensuração de subscrição de risco ASG e diagnosticar a percepção do setor segurador sobre os impactos de riscos climáticos. Para isso, serão entrevistados diversos profissionais da área para avaliar as suas opiniões a respeito dos riscos ASG. Em um “spoiler” da pesquisa, o professor adiantou que as seguradoras já se entendem mais sustentáveis que o mercado como um todo, mas os consumidores gostariam que essa preocupação com os fatores ASG fosse ainda maior.