Cada vez mais, governos, empresas, organizações e instituições estão interessadas em destinar recursos para financiar projetos com benefícios ambientais ou sociais, ou para impulsionar a agenda ASG de outras empresas. Com objetivo de explorar o universo dos títulos de sustentabilidade, o Banco de Indústria e Comércio da China (ICBC), sob o contexto do cargo de Presidência dos BRICS em 2022, iniciou uma rodada de workshops, palestras e treinamentos virtuais para capacitar e estimular o envolvimento de agentes financeiros e de segmentos estratégicos nos países membros dos BRICS em finanças sustentáveis.
Dando início a rodada de capacitações, o ICBC, em parceria com o BBC Financial Services Working Group e o Office of Xiamen Leading Group for BRICS PartNIR Innovation Center, realizaram na última sexta-feira (11 de março) o primeiro workshop desta série sobre títulos de sustentabilidade. O workshop teve o objetivo de fornecer uma visão geral sobre o mercado de finanças verdes na China e no mundo, além dos fundamentos principais e as orientações básicas sobre os processos de estruturação desses títulos.
Chen Lin, diretor do Centro de Colaborações Internacionais do Instituto de Finanças e Sustentabilidade (IFS), lembrou que a China representa o terceiro maior mercado de títulos verdes do mundo, depois da França e da Alemanha, respondendo por cerca de US$ 145 bilhões em títulos verdes em circulação em 2021. E que, no mundo, o “boom” das emissões verdes alcançou US$ 517,4 bilhões em 2021, de acordo com a Climate Bonds Market Intelligence.
Segundo ele, a partir de compromissos internacionais assumidos pelo país, - que é o que mais polui no mundo, de acordo com o Global Carbon Project, - como o pacto de descarbonização de Glasgow, o país tem contado com o apoio importante do governo para atrair investidores internacionais para projetos sustentáveis ou que fomentem a transição para uma economia de baixo carbono. Como parte dessas políticas públicas, empresas estatais têm sido grandes emissoras de títulos verdes. Em 2021, 12,57% das emissões chinesas vieram de organizações relacionadas ao governo, segundo dados da Climate Bonds Initiative. Entre os três maiores agentes emissores de certificados de títulos climáticos no mundo, dois são bancos chineses. O Banco de Desenvolvimento da China ocupa a 1ª posição, com a emissão de títulos no valor de US$ 7,4 bilhões e o Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) ocupa a 2ª, com US$ 3,2 bilhões.
Para Wenhong Xie, líder regional da Climate Bonds Iniative (CBI) – empresa referência internacional em finanças sustentáveis e na certificação de títulos sustentáveis – um dos obstáculos para o desenvolvimento deste mercado no mundo é a ausência de um framework padrão internacionalmente reconhecido. Várias regiões e países estão desenvolvendo seus próprios padrões para títulos verdes e outros produtos financeiros sustentáveis, como o ICMA (Associação Internacional do Mercado de Capitais), a Taxonomia Verde da União Europeia (EU) e o próprio CBI.
Para Xie, a China liderou o mundo no lançamento de um mercado doméstico de títulos verdes, impulsionado por políticas públicas robustas. Contudo, a próxima fase de crescimento do mercado exigirá a harmonização global, bem como alinhamento de “definições verdes”, o reforço de crédito para permitir que emissores de médio porte entrem no mercado e maiores esforços de conscientização e de transparência.
Os elementos chave para estruturar e iniciar processos de emissão de um título verde foram apresentados pelo analista de investimentos em ESG da Crédit Agricole (CIB), Brian Wong. Eles constituem os quatro Green Bonds Principles (GBP), definidos pela ICMA (Associação Internacional do Mercado de Capitais). Resumidamente, são 4 etapas principais:
- Seleção de critérios para os projetos ou ativos a serem financiados com recursos de Títulos Verdes. É importante que esses critérios sejam claros, objetivos e que os projetos e ativos elegíveis tenham impactos positivos mensuráveis.
- Processo de avaliação e seleção. O emissor deve ter um processo interno para revisar os projetos propostos. Além disso, são incentivados a fornecer informações sobre o grau de alinhamento dos projetos/ativos com taxonomias oficiais ou baseadas em frameworks no mercado.
- Gestão de Receitas. O rastreamento dos recursos captados até seu desembolso para o fim “verde” destinado precisa ser formalizado. Existem duas opções mais corriqueiras, a primeira consiste em sinalizar em conta o fluxo do dinheiro destinado para essa causa; a segunda consiste no estabelecimento de uma conta bancária segregada.
- Reporte. Toda movimentação financeira deve ser documentada, além de fornecidos relatórios periódicos com informações sobre projetos ou ativos que foram financiados pelos recursos dos Títulos Verdes, juntamente com informações sobre os impactos ambientais e/ou sociais desses projetos.
Adicionalmente ao alinhamento com as quatro etapas do GBP, Wong recomenda que todo processo de estruturação e emissão do título passe por revisões externas para se assegurar que a seleção de critérios, os projetos elegíveis e o reporte periódico estão em conformidade com as expectativas dos potenciais investidores.